Infelizmente, nenhum de nós estranha as notícias sobre incêndios em zonas rurais no Verão. Em 2017, depois dos incêndios em Junho no Pedrógão Grande, houve mais 440 incêndios e 50 vítimas em Outubro. Em 2018, voltámos a ser o país da UE com mais área ardida. Entre 2019 e 2021 houve uma ligeira trégua, mas em Julho de 2022 tivemos grandes incêndios nas zonas Centro e Sul. Depois, 2023 tornou-se o primeiro ano de sempre sem vítimas mortais, mas rapidamente regredimos. Acho que todos nos lembramos dos incêndios do ano passado, com dias em dias em que o Sol ficou coberto por fumo e poeiras.
Então, o que podemos fazer para reduzir o risco de incêndio em zonas rurais?
Recomendações para os proprietários reduzirem o risco de incêndio
Antes de mais, precisamos de ter consciência que os métodos de prevenção de incêndios só funcionam se forem respeitados por todos. De nada serve limpar o seu terreno se o do vizinho está cheio de giestas. Os corredores anti-incêndio, as espécies que plantamos, tudo isso deveria obedecer a um plano conjunto.
No entanto, em Portugal apenas a limpeza dos terrenos é obrigatória para todos os proprietários. O prazo legal é 31 de Maio (portanto, já passou) e a limpeza rege-se por uma série de regras: as copas das árvores devem estar a 4 metros umas das outras ou a 10, no caso dos pinheiros e eucaliptos; os arbustos não devem ultrapassar os 50 cm de altura e as herbáceas não podem ter mais de 20 cm.
Evitar usar máquinas em dias de muito calor
No entanto, há mais coisas que podemos fazer para evitar a propagação de incêndios. A primeira é, desde logo, evitar queimadas nos dias com condições meteorológicas adversas. Ao contrário do que as pessoas pensam, não apenas a temperatura que importa. A humidade relativa baixa, especialmente quando se prolonga durante vários dias, é um factor decisivo. Também o vento e a direcção da brisa.
Além das queimadas, é preciso ter cuidado ao ligar equipamento agrícola. O uso de moto-roçadoras, corta-matos e grades de discos pode gerar uma faísca e, se o tempo estiver de feição, é o suficiente para despoletar um fogo. Fazer puxadas de electricidade ou até mesmo ao usar geradores também é arriscado, por isso tenha cautela.
Esforços ao nível local
Os peritos em prevenção de incêndios recomendam preparar faixas e mosaicos de gestão de combustível (ou seja, faixas de corte de incêndio), assim como uma rede de pontos de água distribuídos estrategicamente. Embora não haja um plano nacional, é possível fazer pequenas iniciativas a nível local. Procure falar com os proprietários dos terrenos à volta do seu para criar essas áreas anti-incêndio.
Outra questão importante que também pode agilizar a nível local é mapear as fontes de água. Saber onde há poços e fontes de água pode ser determinante para apagar o fogo assim que surge. Por isso, em zonas rurais, nada como falar com os vizinhos e com a junta de freguesia para traçar um plano.
Plantar espécies mais resistentes ao fogo
O pinheiro e o eucalipto são espécies que facilitam a propagação do fogo. No entanto, como crescem rápido e são madeiras fáceis de vender, é muito tentador continuar a plantar estas espécies. Mas, se não está a pensar exclusivamente a curto prazo, recomendamos plantar espécies autóctones que são mais resistentes ao fogo, como os sobreiros, os carvalhos, o medronheiro, o castanheiro e as azinheiras.
No caso das regiões autónomas, as plantas típicas da floresta de Laurissilva (o til, o zimbreiro, o loureiro, o barbusano, o vinhático, a faia e o samouco) e algumas espécies tropicais, como as árvores de anona, oferecem mais resistência do que o eucalipto e as espécies invasoras.
Dito isto, recordo uma vez que a limpeza de terrenos é obrigatória. A limpeza de terrenos é a primeira linha de combate para evitar que haja acumulação de combustível nas zonas rurais. Embora o custo da limpeza de terrenos seja cada vez mais alto, o resultado não tem preço.